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segunda-feira, março 10, 2008

Sobre o Festival da Canção

Faço parte de uma geração que, arrastada pelos pais, fazia das noites da Eurovisão um acontecimento bem importante, como se de uma final de um Europeu ou Jogos Olímpicos se tratasse. Era um momento de convívio e celebração familiares.
Porém, com o passar dos anos, tornou-se incontornável o declínio do Festival, a começar pela adopção do inglês como língua oficial de 2/3 dos concorrentes, até à insistente aposta num tipo de sonoridade que, dizem, é "festivaleira", certo, mas que de tão repetida e pouco original se encontra, que pouco a pouco só os revivalistas continuaram a ligar ao Festival, que ainda hoje é promovido como se da última novidade se tratasse, mas quem anda no meio musical com vontade de singrar já nada ou pouco ligar...
E o extraordinário é que de tão miseráveis que são as representações lusas, que não há ainda ninguém que consiga apresentar uma canção que devolva alguma dignidade ao cancionismo luso. Pelo contrário, assiste-se a "mais do mesmo", sem rasgos ou criatividades que nos ponham a pensar "este/a vai longe". Quando ouvi a Lúcia Moniz não tive dúvidas.
Adiante. Ontem à noite, ao contrário do que seria de esperar, estive por uns bons minutos preso ao pequeno ecrã a assisitir a mais uma edição do Festival. O motivo era a presença de um concorrente da terra, colega de aventuras musicais em idos tempos, e que parece querer fazer da música modo de vida. Nada a apontar. O Carluz Belo não me enche as medidas como cantor, onde são nítidas as suas limitações, no entanto, sempre lhe reconheci boas qualidades como produtor, "metier" em que tem jeito e vontade de aprendizagem. Pelos vistos veio cá para Lisboa para se cultivar nessa área, e parece-me uma aposta acertada. Já cultivar o ofício de cantor é que coloco mais reservas. Se os Gato Fedorento, representam as suas "estórias" porque não nenhum actor aceitaria ser pago para tal, e são os primeiros a dizer que são maus actores, já Carluz Belo vir cantar as suas próprias canções, não tem porque a aplicação do princípio ser igual. Há canções dele com valor, e há muito bom cantor/a por aí fora que não se importaria de interpretá-las. Será uma jogada mais inteligente.
Da experiência "banda de garagem", pude acompanhar algum do repertório do Carluz. Inclusivé, este "Cavaleiro da Manhã". Confesso que já não me recordava da música. O Felgueiras sim. Bastou os primeiros acordes para me lembrar, e lamentar ter sido essa a escolha. Havia músicas bem melhores que essa. Penso, por exemplo, em "Somos a diferença!" que tocámos em Ílhavo e que porventura teria encaixado melhor na noite de ontem.
Foi outra a escolha, e sobre a actuação, devo dizer que no panorama geral (bastante desolador), o Carluz não se saiu mal, apesar de se notarem as limitações vocais, o guarda-roupa um tanto ou quanto floribelístico, e a chamada "presença em palco" também não foi a melhor. Ainda houve uma tentativa de dueto com a bailarina, mas às tantas o Carluz terá pensado "é melhor não me esticar muito". Foi pena. Poderia ter treinado essa parte, que daria outro movimento à interpretação da música, ao invés do plano "à manoel de oliveira" que suscitou a representação.
Mas pronto. Há que dizer que foi bastante meritório da sua parte ter ido ao "Festival" ainda com tão pouca idade e experiência. É bem provável que o Carluz ainda volte mais vezes como produtor, mas como cantor é melhor não. Mas pensando no que foram os outros concorrentes, devo dizer, em abono da verdade, que uma segunda chance não ficou queimada....
Quanto a prognósticos de Portugal na Eurovisão, será mais do mesmo. A ver pela Televisão. Nós, e a concorrente....

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