Se há discussão política que me provoca enorme tédio, porque nunca leva a lado nenhum, é aquela que envolve a Constituição e a sua revisão.
A Constituição portuguesa é um longo tratado onde cabe tudo e mais alguma coisa, tendo artigos que nunca mais acabam. Nascida em pleno período pós-25 Abril, carrega ainda consigo alguns reflexos do espírito revolucionário dessa época.
E porque o espírio dessa época estava mais inclinado à esquerda, para os partidos desse espectro político a Constituição é a sua "dama intocável", sendo crime de lesa-pátria qualquer proposta vinda da direita que pretenda alterar artigos da Constituição, em particular, aqueles que envolvem as matérias mais sensíveis e/ou polémicas. Quando isso acontece, está aberta a época do disparate político. Desde o absurdo das propostas, até aos insultos com que os autores da proposta são mimoseados pelos outros partidos.
É um filme já visto em outros tempos, e esta proposta do PSD de Passos Coelho é mais um remake de outros tempos.
Em abono da verdade, diga-se que os tempos não estão para debates sobre a Constituição, uma vez que as prioridades são outras. Passos Coelho que tem sido tão pródigo em marcar a agenda política, desta feita, e porque anda muito cheio de si, achou que podia introduzir este tema da Constituição, e com a sua proposta de revisão poder revolucionar a posição do Estado no campo social. Como seria de esperar, caiu tudo em cima dele.
Os portugueses, já não lhes bastam os sacrifícios do dia a dia (mais impostos, menos benefícios, desemprego) e ainda lhes querem impingir o fim da saúde tendencialmente gratuita e o fim do despedimento por justa causa? Onde é que o PSD tem a cabeça?
Como é óbvio, a esquerda caiu toda em cima e agora surgirão aos olhos dos portugueses como os grandes defensores do Estado Social, fazendo de Passos Coelho o grande papão que vem pra aí dar cabo de tudo, e dos direitos adquiridos.
Para José Sócrates esta ajuda de Passos Coelho não podia vir em melhor altura. Nos próximos tempos, o saco de pancada passará a ser outro. Mas que grande parceiro de tango saiu ao engenheiro relativo!
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