Caro leitor, Francisco Melo
Agradeço o seu email: pelo trato, pela clareza e pela argumentação. São leitores como o senhor que fizeram do JN mais do que um jornal.
Permita-me, então, que refira em jeito de alegoria algumas das circunstâncias e chaves com as quais um jornal diário é produzido:
1. Fazer a capa é como aterrar um avião: de algum modo é preciso pousá-lo sobre a pista à hora exacta para o servir ser exemplar
2. Nas aterragens não há dois pilotos iguais: o mesmo se passa com quem pilota fechos de jornal
3. Em dias de turbulência, pouco importa como se aterra… desde que aterre mesmo. E acredite que nos jornais são mais os dias de turbulência que os outros.
4. Por último e para memória futura: o papel é um meio em desvantagem com o digital [exemplo entre já muitos outros: a Operação Tempestade, ou seja, a guerra em directo nos canais TV de todo o mundo sob a forma de notíciário] por ser frio, mesmo que o frio esteja associado à racionalidade inteligente. Porém, os sinais que por aí andam apontam à convergência e fusão de meios e plataformas que transportam as notícias e opiniões. Por isso, é natural que o jornalismo esteja sujeito a uma certa turbulência da busca. Ou sejam, a questão a que temos de dar resposta [por vezes em aterragens de emergência] é: como dar função vital ao papel de modo a não ficar limitado a ser uma réplica distante e fria da tórrida “telerrealidade”?
Espero não o ter decepcionado. E espero ainda mais que nos faça chegar, sempre, as suas reflexões, as quais serão sempre incorporadas nas reflexões da minha equipa de Direcção.
Queira aceitar os meus respeitosos cumprimentos
Manuel Tavares