No editorial da última edição do Jornal Notícias de Esposende, José Ferreira aborda as eleições autárquicas do próximo ano.
Em virtude da limitação de mandatos, mais de 50% dos actuais presidentes de câmara não se poderão recandidatar.Será uma oportunidade para refrescar o quadro político nacional.
No entanto, segundo José Ferreira, tal circunstância poderá abrir espaço a que sejam cometidos actos de gestão danosa, uma vez que não tendo que prestar contas aos eleitores, muitos presidentes poderão ser tentados a fazer obra para a qual o município não tem as necessárias condições para a realizar. E, à boa maneira portuguesa, o senhor que se seguir que limpe a casa.
Por isso, José Ferreira propõe que os actuais presidentes de câmara que não se poderão recandidatar abdiquem, a um ano e meio do termo do seu mandato, da presidência a favor do putativo sucessor.
Um dos exemplos apontados é o de João Cepa.
Aliás, a esse título, José Ferreira tece duras críticas sobre o autarca, a propósito da sua demissão do PSD, onde refere que tal se deveu ao amuo de não ter tido qualquer saída profissional no actual governo laranja. Por outro lado, refere que João Cepa anda a mexer-se muito (entrevistas, afrontas ao poder central), o que pode indiciar que tem algum objectivo em mente, embora não seja ainda perceptível.
Li o editorial de José Ferreira e não posso concordar.
Em primeiro lugar, pelo carácter pessoal que assumem as eleições autárquicas. Aqui as pessoas votam mais pela pessoa do candidato, e menos pelo partido que representam. Ora, se assim é, não faz muito sentido que a meio do jogo, as pessoas em quem confiámos o nosso voto para exercer a função, abdiquem desta a favor de alguém em quem não votámos e, muitas vezes, nem sequer votaríamos.
Associado a este argumento está também o facto de os mandatos deverem ser cumpridos até ao fim. Embora certo candidato possa não vir mais a prestar contas no futuro, em caso de gestão danosa existem os tribunais para apurar as responsabilidades.
Não exercer o mandato até ao fim seria faltar às responsabilidades assumidas para com os eleitores, bem como uma falta de respeito pela confiança que foi depositada.
Por outro lado, a proposta não pode proceder porque seria a inversão dos valores. Ou seja, José Ferreira lança o ónus da vigarice sobre os autarcas em fim de mandato e sem possibilidade de recandidatura, como se fossem todos susceptíveis à trafulhice.
Há os bons e os maus autarcas, mas tomar aqueles pelos segundos, é um erro.
Em resumo, uma ideia original a de José Ferreira, mas seguramente dispensável, pois em política os compromissos devem ser levados até ao fim, e trocas a meio de mandatos para fazer o jeito nunca agradaram, pela falta de respeito e sentimento de engano que geram.
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