Ao segundo dia de luto nacional, abro espaço para umas breves linhas sobre o falecimento de José Saramago.
Em 1998, como aconteceu a quase todos os portugueses, também eu fiquei contentíssimo pela atribuição do Prémio Nobel ao escritor, o primeiro Nobel que era dado a um escritor português. A língua portuguesa já merecia este reconhecimento!
Desde essa data até ao presente, que Saramago tornou-se uma figura incontornável da intelectualidade portuguesa, com posições bem vincadas, e sem medo de polemizar. Uma postura assertiva, mas também muito "cheio de si", o que lhe permitia atribuir-se licença para disparar contra quem quisesse, e muitas vezes de forma algo rude.
O principal e. porventura, preferido alvo de Saramago para "malhar" foi a Igreja. Desde chamar "filho-da-puta" a Deus, até outras pérolas infelizes, Saramago nunca se coibiu de criticar a Igreja por tudo e por nada, muitas vezes já a roçar a obsessão. Agora que se recordam as imagens e entrevistas de Saramago, relembro uma em que o escritor, bastante desagradado diz "não há céu!".
Mas que lhe terá feito Deus para ter esta obsessão doentia por Ele? Ainda por cima, sendo ateu convicto, era suposto desprezar Deus, e não estar sempre a falar Dele, como se fosse algo que não conseguisse viver sem.
Saramago, neste tema, nunca foi respeitador, nunca se portou bem, e a sua intelectualidade ou superioridade não lhe permitia tudo. Desculpem-me, mas não consigo verter uma lágrima pelo desaparecimento do Saramago. Pela sua pessoa. Já pelo escritor, aí já é diferente. Escrevia muito bem, e tratava a língua portuguesa como poucos. E em tempos em que a nossa língua é tão maltratada, esse tratamento ainda maior relevância assume.
1 comentário:
Caro FM,
em meu modesto entender, Saramago optou pelo caminho que "vende"! Dizer mal da igreja tornou-se um lugar tão comum que muitos foram tentados a "sentar-se" lá para merecerem algum destaque. Num país de tradição católica, insultar as convicções da maioria é garantir palco na certa, mais não fosse, pelos largos milhares que teriam aquele sentimento nobre de "é melhor dar que receber" e seriam assolados pela vontade de "dava um grande soco nesse filho... do Criador".
Saramago optou pelo caminho mais fácil, aquele que precisou chocar para se promover, para ser verdadeiramente notado. Tratou mal as convicções e os que dizia seus: que culpa tem povo português de na sua maioria não ser tão erudito e intelectualmente esclarecido para compreender os escritos de Saramago do jeito que ele queria ser compreendido? E será que deveria ser compreendido? Afinal de contas, Saramago criticou toda uma "obra" que crê o povo ter sido escrita por "inspiração divina", para acabar ele mesmo a escrever "por inspiração divina", tornando o seu percurso não a tese, mas a anti-tese!
Pessoalmente, Saramago nunca me disse nada, e o único sentimento que poderia nutrir era indiferença! Continuo a preferir Torga e Pessoa, ainda que de outro tempo, mas cuja mente era de verdadeira genialidade.
Sobra agora espaço para um novo "politicamente incorrecto" que queira ludibriar o povo com o rótulo de "plenamente livre" ao som do operações de marketing fácil!
Criticar a religião, a Bíblia, Deus, é o caminho mais fácil para o estrelato.
Enviar um comentário