Devo a Paulo Portas o meu interesse pela Política. O estilo cortante adoptado nos debates parlamentares ou televisivos, com frases curtas, incisivas, levando ao embaraço o interlocutor a quem se dirigia, terríveis soundbytes, poses encenadas, tudo isso levou-me a pouco e pouco a ficar colado à televisão, e começar a ganhar um certo fascínio por esta modalidade que se chama Política.
Quando Portas abandonou a liderança do PP, fiquei com pena, mas não lamentei a sua saída. Era altura de o PP mostrar o que vale sem ele (estava excessivamente dependente) e face à exposição pública dos últimos anos, era importante Portas passar por um período de recolecção, e dedicar-se a outras coisas. Sai de cena o protagonista, a peça continua.
Mas o protagonista não aguentou muito tempo e agora quer regressar, querendo impôr o retorno nos termos por si definidos. Está fácil de ver que muitos não gostaram e vão tentar impedir. E quando neste confronto digladiam-se duas partes já de si teimosas, e com posições extremadas, não será difícil antever o final.
O PP hoje já não é o mesmo partido, e muito o menos o será quando a corda roer e alguém ganhar. A expressão eleitoral ficou irremediavelmente comprometida, e ganhe quem ganhar, quadros importantes sairão. Terá valido a pena? Parece-me que não. Por muito que aprecie Paulo Portas, consideor que está a desbaratar o capital de simpatia que tinha alcançado e, mais grave, está a prejudicar o partido, que goste-se ou não, é importante para a democracia portuguesa.
Há alguns anos, citando Mark Twain, Portas considerou manifestamente exagerada o anúncio da sua morte (política). Creio que hoje não serão excessivas as premonições que apontam a morte política do PP, pelo menos enquanto partido com capacidade de influência, tornando-se membro de um arco governativo qualquer.