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quarta-feira, julho 23, 2008

O Grande Artista

Chegou ontem ao fim a carreira de João Vieira Pinto.
Da geração de ouro era considerado, por muitos, como o mais talentoso de todos. Mas uma experiência má sucedida no estrangeiro, e o assumir de responsabilidades familiares desde muito novo, criaram-lhe, porventura, uma inibição psicológica que fez com que nunca mais tentasse dar o salto lá para fora, apesar das tentadoras ofertas que teve. Ganhou com isso o futebol português, que teve oportunidade de ter nos seus relvados durante largos anos um jogador nacional como o melhor futebolista a actuar na Liga.
João Pinto foi um símbolo do Benfica. Seu capitão, era também o seu melhor jogador. Os 6-3 ao Sporting figuram obrigatoriamente em qualquer enciclopédia sobre o futebol luso e quem assistiu a esse jogo nunca mais o esquecerá. Tornou-se, obviamente, a figura mal-amada dos adeptos sportinguistas. João Pinto estava destinado a ficar ligado perpetuamente ao Benfica. Mesmo quando a equipa bateu no fundo, conseguia-se destacar no meio daquela soma de jogadores que não faziam equipa nenhuma.
Até que um dia, um louco chamado Vale e Azevedo achou por bem por fim àquela ligação, e correr com o seu maior símbolo, fazendo passar a ideia de que João Pinto estava a servir-se do Benfica, e não o contrário.
João Pinto partiu para o Euro 2004 desempregado, e nem por isso deixou de assinalar uma óptima prestação, de que o fantástico golo à Inglaterra foi o seu momento mais alto.
Depois disso seguiram-se propostas de fazerem perder a cabeça a qualquer um, mas a vontade firme em permanecer em Portugal falou mais alto.
Ironia das ironias, João Pinto acabou por se mudar para Alvalade. Um contrato principesco.
E quando se achava que o menino de ouro do Benfica, já não ia ter outro fôlego como o dos seus melhores anos no Benfica, João Pinto deu mostras do seu talento ímpar, e assinalou com a camisola verde-e-branca a sua melhor temporada de sempre, onde fazia parelha com outro jogador ímpar, de seu nome Mário Jardel. A partir daí nasceu outro petit-nom o "Grande Artista".
João Pinto rubricou exibições de grande nível, e foi sempre um jogador dedicado, que não virava cara à luta. Caiu rapidamente no goto dos adeptos sportinguistas, que apesar de ainda não lhe terem perdoado aqueles 6-3, hoje quando falam de João Pinto, salta logo à memória o excelente jogador que passou por Alvalade, e que deu gosto ver jogar.
Nesse ano do nosso último título, vi alguns jogos, e era de facto impressionante aquele pequeno grande jogador.
Depois disso, com 32 anos, João Pinto tentou forçar uma renovação em grande com o Sporting, tendo sido algo infeliz, como mais tarde veio a reconhecer.
Regressou então ao Boavista (que já começava a dar sinais de grande instabilidade), tendo terminado a carreira no Braga, mas também aí com pouca sorte, pois apanhou o Braga com grande instabilidade. Curioso que ao fim destes anos todos, não tenha jogado no clube da sua preferência, o FC Porto.
Na selecção João Pinto foi igualmente um jogador de eleição, e quando Queiroz diz que o problema não era por João Pinto no 11, o problema era escolher os outros 10, está tudo dito.
Os problemas indisciplinares também marcaram a sua carreira, sendo as picardias com Paulinho Santos, e os incidentes no Euro 2000 e Mundial 2002, os momentos mais marcantes desse lado negativo. Também por isso, João Pinto foi um jogador que despertava paixões nos adeptos, divididos entre os que o idolatravam, e aqueles que lhe criticavam a indisciplina.
Costuma-se dizer que todo o génio tem o seu quê de louco. João Pinto não fugiu à regra. Quero agradecer ao João Pinto os grandes momentos desportivos que assisti como adepto: Campeonato do Mundo sub-21 em 1991, Sporting 3-6 Benfica, Portugal no Euro 2000 e nas campanhas de qualificação, Sporting em 2001/2002, Sporting-Manchester United na inauguração do Alvalade XXI.
Obrigado Grande Artista!

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