Chapeau para o artigo do Henrique Raposo no Expresso deste sábado. É obrigatória a sua divulgação!
O 'momento zen' desta campanha pertence a Francisco Louçã. Há dias, Louçã apelidou Duarte d'Orey de "menino de famílias". Esta acusação é, ao mesmo tempo, cómica e perigosa. Comecemos já pelo lado circense da acusação. É que isto dá mesmo vontade de rir. Porquê? Porque Louçã também é um 'menino de famílias'. O que é Louçã senão um baronete de esquerda? Por ser de esquerda, Louçã deixa de ser um 'menino de famílias' e passa a ser um emérito proletário com antepassados neo-realistas? Louçã sofre de uma espécie de esquizofrenia social: lança ódio contra as suas próprias origens. Louçã é um 'menino de boas famílias' com vergonha de ter nascido 'menino de boas famílias' (um complexo comum no BE). Em 'Diários de Paris' (Oceanos), Marcello D. Mathias diz que "há quem sofra horrores por nunca ter sido preso pela PIDE". Com Louçã, a coisa é um pouco diferente. O guia supremo do BE deve sofrer horrores por não ter nascido numa família humilde. Não faz mal. Eu tenho disso aos montes, e proponho já uma troca: Louçã concede-me as suas raízes aristocratas, e eu ofereço-lhe as minhas raízes plebeias. Para enorme benefício profissional, eu ascenderia à aristocracia da esquerda caviar. Para enorme benefício psicológico, Louçã adquiriria origens proletárias. Uma troca justa.
Deixando a comicidade de lado, convém dizer que este tipo de vocabulário é perigoso, porque revela um discurso político baseado no ódio. Louçã é um vendedor de ódios sociais (a luta de classes é isso mesmo: uma traficância de ressentimento). Um político que agita ódios é um perigo constante. Aliás, este comércio de licores rancorosos é a alma do populismo, e Louçã é o pior dos populistas indígenas. Louçã é tão virulento como os populistas de direita. O nível de ódio que Le Pen usa contra os 'pretos' é idêntico ao nível de ódio que Louçã usa contra os 'ricos'. O líder do BE lança racismo social contra os 'Belmiros', e, dessa forma, desumaniza os tais 'Belmiros'. E o pior é que este show de xenofobia social passa incólume. Ainda estou para perceber a razão que leva os media a proteger o político mais intolerante de Portugal.
Para o futuro do BE, importa saber uma coisa: qual é a força das facções respeitáveis do BE (aquelas que não dependem de Louçã)? A saída de Miguel Vale de Almeida não augura nada de bom a este respeito.
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