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segunda-feira, junho 06, 2011

Portugal v12

No rescaldo das eleições que elegeram os deputados e futuro Governo da XII Legislatura, faço aqui a minha leitura dos resultados da noite eleitoral:




PSD




Mais: Afasta Sócrates de cena (duplamente: do Parlamento e da vida política activa), conquista as eleições com uma margem vitoriosa inequívoca (ao contrário do que as melhores sondagens lhe apontavam), e assume um discurso estadista no sentido de dotar o País com a melhor equipa de trabalho e o mais rapidamente possível.


Sabe que o tempo não pode esperar, que a responsabilidade é enorme, e que os momentos exigem que se governe para o País e menos para os votos ou para agradar as clientelas partidárias.


Passos Coelho terá na pressão dos "boys" que querem assaltar os lugares ocupados pelos socialistas o seu primeiro grande desafio. Se souber controlar o aparelho partidária, não permitindo que este assalte a máquina do Estado com o número exagerado de assessores e respectivos salários obscenos, estará a dar um sinal forte ao País que não deixará de o interpretar convenientemente nos tempos que exigirão grandes sacrifícios aos portugueses.




Menos: Estando tão perto da maioria absoluta houve quem quisesse fazer desse facto o acontecimento negativo da noite vitoriosa de ontem à noite.


Pessoalmente, acho que não faz sentido estarmos aqui a falar de um menos. Nunca, nas melhores expectativas, o PSD poderia esperar por um resultado como aquele que obteve. Como tal, a aspiração à maioria absoluta nunca esteve nas cogitações do Partido, pelo que só por delírio é que se poderá querer manchar o brilho da vitória com esse não-facto.




PS




Mais: Sócrates sai de cena, não se mostra agarrado ao poder, e tem o gesto bonito, na hora da derrota, de pedir aos socialistas presentes que o acompanhassem na salva de palmas ao vencedor das eleições. Não me lembro, de noites eleitorais passadas, de ver o líder derrotado ter esse gesto de fair-play perante o principal adversário. O gesto ficou bem a Sócrates e seria bonito que começasse a fazer escola.




Menos: Uma derrota estrondosa. O povo caiu na real e não foi mais no País das maravilhas, onde o mal só acontece aos outros, que Sócrates tão brilhantemente vendeu nos últimos anos. Foi mau demais! Para não falar da fraca campanha que fez, em que à falta de melhores ideias, foi uma autêntica cassete, a debitar o mesmo discurso, e com algo inédito em campanhas, que foi evitar o contacto com o povo, não fosse alguém dizer-lhe das boas e verdades. Rodeado por seguranças e pelos jotinhas só se deixou aproximar por quem lhe daria jeito, como foi o triste caso com Fábio Coentrão. Mas nem essa cena patética convenceu. Finalmente que os portugueses mostraram bom senso!




CDS



Mais: Consolida a margem dos 2 dígitos, aumenta o número de deputados, e voltará ao Governo em coligação, em melhor relação de forças do que a de 2002, quando se juntou ao PSD de Durão Barroso.


Paulo Portas fez um óptimo trabalho de refundação da equipa de deputados do CDS, reconhecida pela competência e qualidade de vários dos seus membros.


No discurso de ontem Portas aludiu que este é um momento em que o País espera que os melhores saltem para a frente, e o CDS sabe que só terá a ganhar se colocar figuras de prestígio em lugares-chave que lhe forem atribuídos pelo PSD.


Para Paulo Portas poderá também ser a concretização da velha ambição pessoal de ser Ministro dos Negócios Estrangeiros.




Menos: A vida tem destas curiosidades. O CDS foi sempre um partido que conseguiu melhores resultados do que os apontados pelas sondagens.


Ora precisamente nas eleições em que as sondagens lhe eram mais favoráveis, em vez de colocar um certo distanciamento, o CDS quis aproveitar a onda, e colocou a fasquia alta. Mas os esperados 13% não se concretizaram, e face às expectativas criadas, a vitória que teve, e que ninguém lhe tira, perde algum do seu brilhantismo uma vez que não correspondeu inteiramente ao que os populares esperavam.


Fica a lição para o futuro. As sondagens valem o que valem e convém não condicionar a agenda política a partir delas.




CDU


Mais: O único partido da esquerda com razões para festejar.


Não sofreu baixas face às últimas eleições, consolida-se como a 4ª força política do País, e vê o principal rival, o BE, sofrer uma estrondosa derrota que deve ter alegrado e muito os militantes da Soeiro Pereira Gomes ontem à noite.




Menos: Já se sabe que o PCP é melhor a fazer oposição a partir da rua do que no Parlamento. O País deu ontem à noite um sinal claro e inequívoco sobre a liderança que pretende, para cumprir o programa de Governo nos próximos 4 anos. Assim como foi claro quanto ao mandato que quis atribuir ao PCP.


Pois o PCP já veio dizer que está pronto para ir pra rua defender os precários e oprimidos, contra este governo de centro-direira, no que não deixa de ser extraordinário.


O PC quer impor o seu pensamento e a sua agenda contra a opção que os portugueses, em liberdade, tomaram ontem à noite. Que me desculpem os comunistas, mas isto de partido democrático não tem nada.




BE



Mais: O surrealismo do discurso de Francisco Louçã. Teve uma copiosa derrota mas falou como se nada tivesse acontecido. Foi o momento "ministro da propaganda do Iraque". O Bloco levou uma hecatombe daquelas, e os bloquistas aproveitaram para fazer mais um comício de propaganda, como se ainda estivéssemos em campanha eleitoral.


Aquele apelo aos aveirenses "estejam descansados, que vamos zelar por vós" foi o must dum discurso alheado da realidade.




Menos: O grande derrotado da noite, a par de Sócrates.


Perde metade da votação, perde metade dos deputados (figuras como José Manuel Pureza, líder parlamentar, ou José Gusmão, que davam a cara pelo Partido nas televisões, não foram eleitos!) e fica agora num sarilho tremendo, pois sem causa fracturante com que se bater, e nunca tendo mostrado disponibilidade nem razoabilidade para poder ser parceiro de Governo, confronta-se com a pergunta que desde sempre tentou ignorar: afinal, para que serve o Bloco de Esquerda?


É que o PS perdeu cerca de 10% de votação, só que essa não se reflectiu numa transmissão de votos para o Bloco. Pelo contrário, também o Bloco perdeu expressividade e em metade!!


Afinal de contas, o eleitorado do Bloco não é tão fidedigno como a sua Comissão Política poderia achar...


Espero que seja o princípio do fim do Bloco. É uma salada de frutas das várias tendências de pensamento esquerdistas do mais radical que se conhece, sem um fio condutor, querendo dar a aparência (e que conseguiram dar durante vários anos e com sucesso) de serem modernos e moderados, coisa que, claramente, não são.

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