Estudo norte-americano diz que não faz mal ter uns quilos a mais
09.11.2007, Teresa Firmino
Quem tem excesso de peso poderá morrer menos de alguns cancros do que... as pessoas com peso normal. Mas isso não é sinal para avançar para a despensa
Aqueles quilinhos a mais que muita gente lhe diz que tem de perder, afinal pode até deixar-se ficar com eles. Até lhe podem ser benéficos, caso tenha infecções ou seja submetido a uma cirurgia, funcionando como uma reserva de recursos e fazendo com que acabe por viver mais tempo. Em linhas gerais, este pode ser o resumo de um estudo sobre a relação entre o peso corporal e as principais causas de morte nos Estados Unidos, mas que está a causar polémica.
A equipa de Katherine Flegal, dos Centros para o Controlo e Prevenção das Doenças dos Estados Unidos, lançou a confusão na última edição da revista Journal of the American Medical Association (JAMA), depois de ter analisado décadas de inquéritos sobre saúde e nutrição, à procura de uma associação entre as categorias de índice de massa corporal (IMC) e as várias causas de morte dos norte-americanos. Diz a equipa que, afinal, o excesso de peso não está associado a um aumento da mortalidade devido às principais causas de morte, à excepção da diabetes e doenças renais, para as quais esses valores aumentam ligeiramente.
Quem tenha um excesso de peso moderado poderá até morrer menos de alguns cancros do que as pessoas com peso normal, uma conclusão surpreendente. Quer dizer que, depois de tantos anos a ouvirmos falar dos riscos do peso excessivo, até podemos ser ligeiramente gordos que não faz assim tanto mal? Sim, podemos, segundo este estudo, que analisou os dados relativos a milhões de pessoas, coligidos desde os anos 70.
De facto, nos cancros não relacionados com a obesidade (pulmões, pele ou linfomas), nas doenças respiratórias, em situação de ferimentos e infecções em geral, as pessoas com excesso de peso (mas sem serem obesas) até parecem estar mais protegidas do que as têm um peso normal. Para as doenças cardíacas, o estudo não encontrou diferenças estatísticas entre as pessoas com peso excessivo e normal. Ter uns quilos a mais, conclui ainda o estudo, nem sequer aumenta muito o risco dos cancros relacionados com a própria dieta, nos quais se incluem o cancro do cólon, da mama, útero, pâncreas, esófago ou rins.
Como se explicam estes resultados, a equipa não sabe dizer ao certo. Mas tem algumas suposições: "O excesso de peso não está fortemente associado a um aumento do risco de cancro ou doenças cardiovasculares e pode mesmo ser correlacionado com uma melhoria da sobrevivência em condições adversas, como infecções ou procedimentos médicos. É provável que estes resultados se devam à presença de maiores reservas nutricionais ou de massa magra que acompanham o excesso de peso."
No entanto, a obesidade não é sinal de boa saúde, o que este estudo volta a confirmar. Os obesos morrem mais de doenças cardiovasculares, renais, de diabetes e vários tipos de cancro associados à obesidade.
Boas notícias para Portugal
Perante estes resultados, as reacções dividem-se. "É ridículo dizer que não existe um risco aumentado de mortalidade por excesso de peso", declarou Walter Willet, professor de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública de Harvard (EUA), citado pelo jornal britânico The Independent.
Outros consideram que as taxas de mortalidade não dizem tudo sobre os problemas causados pelo peso a mais e a obesidade, como JoAnn Manson, especialista em medicina preventiva do Hospital Brigham and Women"s de Boston. "A saúde vai muito para lá das taxas de mortalidade", disse a investigadora ao New York Times, acrescentando que outros estudos estabelecem uma relação entre o excesso e peso, a obesidade e um grande número de doenças.
Também para Barry Popkin, da Universidade da Carolina do Norte, o estudo preocupa-se mais com as taxas de mortalidade do que com a qualidade de vida de quem se mantém com o peso controlado.
Pedro Teixeira, professor de Nutrição e especialista em obesidade da Faculdade de Motricidade Humana, de Lisboa, olha para o estudo com maior distanciamento, considerando que traz boas e más notícias. "As más notícias é que confirma o que já se sabia para os níveis mais avançados de obesidade. Aos esses níveis corresponde um risco de morte acrescido de quase todas as causas de mortalidade. Há uma relação clara."
"São boas notícias para a larga maioria de pessoas com excesso de peso, nomeadamente em Portugal, onde temos 40 por cento de adultos com peso excessivo. Nestas pessoas em risco de obesidade, mas que ainda não são obesas, o risco de mortalidade não está aumentado, com a excepção do risco associado à diabetes", diz o especialista, também secretário-geral da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade. Por estas razões, Pedro Teixeira considera que este estudo permite fazer algo muito importante: "Prevenir que esses 40 por cento de portugueses adultos venham a desenvolver obesidade, sem histerias nem alarmismos."
Enquanto os grandes obesos precisam de procurar tratamento e tomar medicação, os outros têm alternativas, refere ainda Pedro Teixeira: podem mudar para um estilo de vida que não os faça saltar para a obesidade, optando pela actividade física e uma alimentação equilibrada. "Mas é preciso que a sociedade crie condições para que isso seja fácil. É preciso ter à disposição da comunidade programas de prevenção que ensinem as pessoas a mudar de comportamento." Como? Os centros de saúde devem ter equipas multidisciplinares que respondam a este problema, a indústria alimentar deve elaborar rótulos claros e a de restauração deve indicar que refeições têm um conteúdo calórico elevado.
Se medidas como estas forem adoptadas, é provável que muitos daqueles com excesso de peso nunca venham a juntar-se aos dois a três por cento de portugueses adultos que já são obesos."
In Público
Melo, fala agora da minha barriguinha, vá, fala? Afinal parece que estou mais protegido e não preciso dos bifidus activos ou do l-casei iminutas... Afinal a ter um quilinhos a mais ainda compensa...
A equipa de Katherine Flegal, dos Centros para o Controlo e Prevenção das Doenças dos Estados Unidos, lançou a confusão na última edição da revista Journal of the American Medical Association (JAMA), depois de ter analisado décadas de inquéritos sobre saúde e nutrição, à procura de uma associação entre as categorias de índice de massa corporal (IMC) e as várias causas de morte dos norte-americanos. Diz a equipa que, afinal, o excesso de peso não está associado a um aumento da mortalidade devido às principais causas de morte, à excepção da diabetes e doenças renais, para as quais esses valores aumentam ligeiramente.
Quem tenha um excesso de peso moderado poderá até morrer menos de alguns cancros do que as pessoas com peso normal, uma conclusão surpreendente. Quer dizer que, depois de tantos anos a ouvirmos falar dos riscos do peso excessivo, até podemos ser ligeiramente gordos que não faz assim tanto mal? Sim, podemos, segundo este estudo, que analisou os dados relativos a milhões de pessoas, coligidos desde os anos 70.
De facto, nos cancros não relacionados com a obesidade (pulmões, pele ou linfomas), nas doenças respiratórias, em situação de ferimentos e infecções em geral, as pessoas com excesso de peso (mas sem serem obesas) até parecem estar mais protegidas do que as têm um peso normal. Para as doenças cardíacas, o estudo não encontrou diferenças estatísticas entre as pessoas com peso excessivo e normal. Ter uns quilos a mais, conclui ainda o estudo, nem sequer aumenta muito o risco dos cancros relacionados com a própria dieta, nos quais se incluem o cancro do cólon, da mama, útero, pâncreas, esófago ou rins.
Como se explicam estes resultados, a equipa não sabe dizer ao certo. Mas tem algumas suposições: "O excesso de peso não está fortemente associado a um aumento do risco de cancro ou doenças cardiovasculares e pode mesmo ser correlacionado com uma melhoria da sobrevivência em condições adversas, como infecções ou procedimentos médicos. É provável que estes resultados se devam à presença de maiores reservas nutricionais ou de massa magra que acompanham o excesso de peso."
No entanto, a obesidade não é sinal de boa saúde, o que este estudo volta a confirmar. Os obesos morrem mais de doenças cardiovasculares, renais, de diabetes e vários tipos de cancro associados à obesidade.
Boas notícias para Portugal
Perante estes resultados, as reacções dividem-se. "É ridículo dizer que não existe um risco aumentado de mortalidade por excesso de peso", declarou Walter Willet, professor de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública de Harvard (EUA), citado pelo jornal britânico The Independent.
Outros consideram que as taxas de mortalidade não dizem tudo sobre os problemas causados pelo peso a mais e a obesidade, como JoAnn Manson, especialista em medicina preventiva do Hospital Brigham and Women"s de Boston. "A saúde vai muito para lá das taxas de mortalidade", disse a investigadora ao New York Times, acrescentando que outros estudos estabelecem uma relação entre o excesso e peso, a obesidade e um grande número de doenças.
Também para Barry Popkin, da Universidade da Carolina do Norte, o estudo preocupa-se mais com as taxas de mortalidade do que com a qualidade de vida de quem se mantém com o peso controlado.
Pedro Teixeira, professor de Nutrição e especialista em obesidade da Faculdade de Motricidade Humana, de Lisboa, olha para o estudo com maior distanciamento, considerando que traz boas e más notícias. "As más notícias é que confirma o que já se sabia para os níveis mais avançados de obesidade. Aos esses níveis corresponde um risco de morte acrescido de quase todas as causas de mortalidade. Há uma relação clara."
"São boas notícias para a larga maioria de pessoas com excesso de peso, nomeadamente em Portugal, onde temos 40 por cento de adultos com peso excessivo. Nestas pessoas em risco de obesidade, mas que ainda não são obesas, o risco de mortalidade não está aumentado, com a excepção do risco associado à diabetes", diz o especialista, também secretário-geral da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade. Por estas razões, Pedro Teixeira considera que este estudo permite fazer algo muito importante: "Prevenir que esses 40 por cento de portugueses adultos venham a desenvolver obesidade, sem histerias nem alarmismos."
Enquanto os grandes obesos precisam de procurar tratamento e tomar medicação, os outros têm alternativas, refere ainda Pedro Teixeira: podem mudar para um estilo de vida que não os faça saltar para a obesidade, optando pela actividade física e uma alimentação equilibrada. "Mas é preciso que a sociedade crie condições para que isso seja fácil. É preciso ter à disposição da comunidade programas de prevenção que ensinem as pessoas a mudar de comportamento." Como? Os centros de saúde devem ter equipas multidisciplinares que respondam a este problema, a indústria alimentar deve elaborar rótulos claros e a de restauração deve indicar que refeições têm um conteúdo calórico elevado.
Se medidas como estas forem adoptadas, é provável que muitos daqueles com excesso de peso nunca venham a juntar-se aos dois a três por cento de portugueses adultos que já são obesos."
In Público
Melo, fala agora da minha barriguinha, vá, fala? Afinal parece que estou mais protegido e não preciso dos bifidus activos ou do l-casei iminutas... Afinal a ter um quilinhos a mais ainda compensa...
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