O Resgate do Soldado Ryan é um filme de 1998, com um dos meus actores predilectos de sempre (Tom Hanks; o outro é o Jack Nicholson), e realizado por um director especialista de excelência em filmes do período da 2ª Guerra Mundial (Steven Spielberg). Melhor ponto de partida, portanto, não poderia haver e foi então com elevada expectativa que fui ao cinema ver a película.
A entrada foi a matar. O desembarque na Praia de Omaha procurou ser tão realista quanto possível, e foram 15 minutos de uma brutalidade impressionante. Poucos foram aqueles que conseguiram tirar os olhos a este testemunho fictício mas natural de um dos mais importantes e decisivos momentos da história da humanidade nos últimos 100 anos. As coisas passaram-se assim, ou aproximadamente, e era importante mostrá-las a toda uma geração que não faz a mais pequena ideia de como foram realmente esses tempos.
Findo o desembarque, seguiu-se a estória propriamente dita. Tratava-se basicamente de um pequeno corpo expedicionário ir procurar um soldado, que também fora destacado para França, mas cujos irmãos tinham falecido tragicamente noutras frentes de guerra e, como tal, era imperioso resgatá-lo e devolvê-lo à família, para que esta não tivesse um trauma ainda maior, e um drama irreparável de todo que era o de perder todos os seus filhos na Guerra.
Confesso que na altura achei a estória um pouco forçada, e nada consentânea com as expectativas que eu próprio tinha gerado quanto ao sumo da narrativa. Por outro lado, a ideia de Spielberg em abordar o drama pessoal de um soldado que se debatia internamente entre o dever de fazer a guerra e a sua consciência, foi algo que não encaixei muito bem, sobretudo na cena em que esse soldado, podendo ajudar um colega que lutava contra um alemão, não o fez, acabando esse seu colega por morrer. Não consegui conceber tamanha situação, e foi para mim o ponto decisivo para não ter morrido de amores pelo filme. Curiosamente, esse soldado e a sua “estória pessoal” foram o facto mais referido por Spielberg nas entrevistas, referindo que se revia e muito nesse soldado.
Como disse, não fiquei particularmente fã do filme, apesar de este ter ganho 5 Óscares.
Julgo que ainda voltei a ver uma 2ª vez no cinema, e porventura uma 3ª vez. Tanto quanto me lembre, não mais do que isso. E assim, sem exagero, passaram uns 6, 7 anos sem ter posto a vista em cima no Resgate do Soldado Ryan.
Até que surgiu esta situação do dvd. E porque me decidi a comprá-lo? Bom, para além do preço de amigo, foi o apetite despertado pelos seus vários extras, com particular destaque para o desembarque do Dia D. Por outro lado, o facto de já não ver o filme há muitos anos e quem sabe se ao vê-lo agora, passado tanto tempo, não sucederia que o contemplasse de outra forma, de outra perspectiva acabando por gostar. De facto, quantos filmes, quantos discos que à primeira visualização, escuta não gostamos, e depois, com a serenidade e a sageza que o tempo se encarrega de nos dar, ficamos colados a eles?...
Pois bem, vi então o Resgate do Soldado Ryan passados estes anos todos, e não será difícil adivinhar que fiquei extraordinariamente impressionado com ele.
O desembarque da Praia de Omaha continua assombroso ao fim destes anos todos.
Quanto à narrativa, atentei-me particularmente nas personalidades dos soldados que compunham o corpo expedicionário, e de facto, pareceu-me francamente verosímil a ideia de que naquela altura fosse necessário resgatar um soldado, cujos irmãos tivessem morrido na frente de combate. E refiro personalidades, porque existem ali grandes interpretações. Os diálogos, os silêncios, materializam-se ali interpretações próprias de grandes actores e que são dirigidos por uma grande equipa.
Quanto ao soldado Unpham, o tal que vivia o seu drama pessoal, percebi o personagem, entendi as suas razões, e conclui por uma fantástica interpretação, mas ainda assim continuo a achar forçada a sua moleza para ir salvar o colega que acabou depois por morrer. Agora que escrevo esta linha, tenho a certeza que vi o filme uma 2ª vez em Esposende. Isto porque há uma cena em que Unpham dispara finalmente, e logo a matar, o que gerou na plateia uma estrondosa ovação (aqui já se começava a denotar que muita gente vai pró cinema como se fosse para um jogo de futebol…).
Tudo visto, tenho a concluir que o Resgate do Soldado Ryan é um filme obrigatório, e uma referência quando se trata de filmes de Guerra. Muito bem filmado, grandes interpretações, um momentum que o vai perseguir para a vida toda (o desembarque) e que só os grandes filmes conseguem ter esses momentos, em que passados 50 anos ainda são referidos (como acontece com o filme Casablanca e o “Play it again Sam”). É uma obra-prima, não haja dúvidas.
Fico feliz por passados estes anos todos ter compreendido o filme e passado a gostar dele convictamente. Não sei agora quando é que voltarei a pegar nele (talvez novo compasso de espera de 5, 8 anos), mas não duvido de que quando o arrumar na prateleira, ainda sobrarão segredos e magias por desvendar e, assim, aberta a possibilidade de poder ainda ficar mais fascinado por ele...