Já se sabe que a elaboração das listas para as autárquicas é sempre um grande quebra-cabeças para quem tem a tarefa de as realizar, uma vez que há muita gente para agradar e os lugares disponíveis não são suficientes. Para piorar, o sistema de cotas que obriga a colocar nas listas uma mulher por cada 3 lugares, veio complicar as contas. Por um lado, porque não há mulheres suficientes na vida política activa, tornando o recrutamento difícil; por outro lado, porque tal critério obriga a preterir candidatos homens válidos e dedicados ao partido, criando algumas indigestões.
Dito isto, não constitui nenhuma supresa o facto de a ter que se excluir algum sector/facção esta tenha recaído sobre a juventude partidária, afinal, o elo mais fraco no que toca a compor listas. Porque os jotas são por norma os mais disciplinadamente obedientes ao Partido, logo os menos prováveis para levantar ondas em caso de desagrado.
Mas assim não sucedeu no caso da JSD Esposende e João Paulo Torres optou pela via mais radical, demitindo-se do cargo, a pouco mais de 1 mês das eleições, e denunciando publicamente a relação de João Cepa com a juventude do seu partido.
Terá sido a melhor opção?
Tenho sérias dúvidas. Basta pensar no caso das listas do PSD para as legislativas, em que várias distritais, como Vila Real, Lisboa ou Setúbal, mostraram o seu descontentamento público com os nomes escolhidos, ameaçaram demissões, mas no final acabaram todos por se manter no Partido em nome da unidade do mesmo, e visando o grande combate político que se avizinha, o qual propõe-se a repor o Partido no Governo.
João Paulo Torres terá meditado muito bem sobre as consequências do seu gesto político. Porque pôs em cheque público o desagrado para com a estrutura do Partido, nomeadamente o seu líder e candidato à Câmara, ao mesmo tempo que deu um valioso argumento político aos adversários de Cepa, o Presidente que supostamente se diz amigo dos jovens, a quem dá prioridade máxima, mas, pelos vistos, não promove a renovação geracional necessária e ideal nas equipas camarárias.
Não foi o melhor gesto de solidariedade política em tempos de grandes combates políticos, e o melhor mesmo talvez fosse aguardar pelas eleições e só então depois exigir contas aos que proclamaram apostar na juventude mas fizeram exactamente o seu contrário aquando da elaboração das listas.
Por outras palavras, ainda que a manifestação pública de descontentamento mais eficaz da JSD fosse a demissão do seu Presidente ainda antes das eleições, julgo que os seus efeitos no futuro serão contraproducentes. Por um lado, porque a JSD com esta atitude não resolveu a questão de fundo que é a inclusão dos jovens nas listas autárquicas. Por outro lado, porque prestou grande falta de solidariedade política para com o candidato do Partido, numa altura em que a união é imperativa, caucionando hipoteticamente o futuro da próxima liderança jota junto da liderança concelhia, pois nenhum Presidente por certo irá incluir os jovens movido pela chantagem destes.
Mas numa coisa o caso de João Paulo Torres tem mérito. O facto de nos consciencializar para a ainda escassa participação política activa dos jovens nos partidos concelhios, e nas suas listas aquando das eleições. Não é por certo um problema exclusivamente local, mas que deverá merecer maior atenção no futuro disso não tenho dúvidas.
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